Três Coisas Para Lembrar Antes de Você Criticar a Teologia de Alguém

Sem autor

Três Coisas Para Lembrar Antes de Você Criticar a Teologia de Alguém

Por Traduzido

Justin Taylor

A crítica – quando bem feita – é um presente para aquele que está sendo criticado. (“Leais são as feridas feitas pelo que ama” Pv 27:6a). Nós devemos acolher bem a oportunidade de ter nosso pensamento corrigido e esclarecido. Nós vemos em um espelho embaçado e conhecemos somente em parte (1Co 13:12), mas Deus presenteou a igreja com mestres que frequentemente veem coisas mais claramente do que nós no momento. Na providência de Deus e através do dom da graça comum ele pode também usar descrentes para criticar nossas visões, mostrando nossas falhas lógicas e falta de clareza.

A crítica feita de forma deficiente – seja através do exagero, do mal-entendido, da caricatura – é uma afirmação perdida para todos. Ela mina a credibilidade do crítico e priva aquele que foi criticado da oportunidade de melhorar sua posição.

É impossível em uma postagem de blog colocar uma metodologia compreensiva da crítica – se tal coisa pode sequer ser feita. Mas há pelo menos três exortações que valem a pena serem lembradas sobre o criticismo: (1) entenda antes de criticar; (2) seja autocrítico em como você critica; (3) considere as alternativas do que você está criticando.

1. ENTENDA ANTES DE CRITICAR
Mortimer Adler coloca esse importante ponto em Como ler livros (É Realizações Editora)
Todo autor já passou pela experiência de ser alvo de críticos que não se sentiram obrigados a cumprir os dois primeiros estágios de leitura. O crítico frequentemente imagina que não precisa ser leitor, apenas juiz.
Todo palestrante também passou pela mesma experiência, isto é, foi alvo de perguntas cujo contexto revela que, obviamente, o ouvinte não entendeu o que foi dito. Você mesmo já deve ter ouvido alguém dizer, repentinamente: “Não entendi o que disse, mas acho que você está errado”.

Na realidade, não faz sentido responder a esse tipo de crítica. A única atitude educada, nesses casos, é pedir a tais críticos que repitam o que entenderam, isto é, as ideias que julgam estar condenando. Se não puderem fazê-lo de maneira satisfatória, se não puderem repetir o que foi dito com suas próprias palavras, você saberá que eles não entenderam e, portanto, estará com razão se decidir ignorá-las.

São críticas irrelevantes, assim como qualquer crítica que não se baseia em entendimento genuíno. Quando conseguir encontrar uma dessas raras pessoas que demonstrem ter entendido o que você disse tão bem quanto você mesmo, então desfrute de seu apoio ou se preocupe com sua crítica. (pp. 154-155)

Eu realmente acho que devemos acrescentar pelo menos mais um adendo à perspectiva de Adler aqui. Ele está assumindo a boa vontade da parte daquele que está sendo criticado. Na última década, tenho notado teólogos com interpretações e posições originais que protestam perpetuamente que estão sendo mal compreendidos.

Nesse mesmo ponto, nós podemos julgar que o teólogo realmente protesta demais. Se nem mesmo o mais cuidadoso e atencioso dos críticos pode entender o ponto, pode ser que haja alguma incoerência no próprio ponto. A ideia que de que entender e criticar a teologia de alguns camaradas é “como tentar pregar gelatina em uma parede” já se tornou um clichê, mas a metáfora é adequada e existe por um motivo.

Contudo, a perspectiva de Adler é aquela que nós precisamos escutar e ter cuidado o tanto quanto depender de nós. Vista de uma perspectiva bíblica, há imperativos morais ligados com o ato de ler e criticar. Jesus me diz para fazer aos outros o que eu faria a mim, e ele me diz para amar o próximo como a mim mesmo – e isso inclui como eu interajo e critico.

2. SEJA AUTO-CRÍTICO
John Frame, em seu excerto em “Como escrever um trabalho teológico” [How to Write a Theological Paper], coloca o segundo ponto.

Seja autocrítico:
Antes e durante sua escrita, antecipe objeções. Se você está criticando Barth, imagine Barth olhando sobre seu ombro, lendo seu manuscrito, tendo as reações dele. Esse ponto é crucial. Uma verdadeira atitude autocrítica pode salvar você de argumentos não claros e defeituosos. Também pode guardar você do dogmatismo arrogante e injustificado – uma falha comum a qualquer teologia (tanto liberal como conservadora).

Não hesite em dizer “provavelmente” ou até mesmo “eu não sei” quando as circunstâncias justificarem. Auto criticismo também fará você mais “profundo”. Pois com frequência – talvez geralmente – são as objeções que nos forçam a repensar nossas posições, a ir além das nossas ideias superficiais, a lutar com as questões teológicas realmente profundas.
Ao antecipar as objeções para as suas respostas às objeções para as suas respostas, e assim por diante, você se encontrará sendo empurrado irresistivelmente para o campo das “questões difíceis”, das profundezas da teologia.

No auto criticismo, o uso criativo da imaginação teológica é tremendamente importante. Mantenha-se perguntando perguntas tais como estas:
a) Posso tirar a ideia das minhas fontes em um sentido mais favorável? Um sentido menos favorável?
b) A minha ideia provê somente uma saída para a dificuldade ou há outras?
c) Ao tentar fugir do mau extremo, estou em perigo de cair em outro mal diferente do outro lado?
d) Posso pensar em alguns contraexemplos para as minhas generalizações?
e) Devo clarificar meus conceitos para que não sejam mal compreendidos?
f) Minha conclusão será controversa e então requerer mais argumentos do que eu planejei?

3. OFEREÇA SUA ALTERNATIVA
Millard Erickson, na antiga edição da sua obra Christian Theology [Teologia Cristã] (p. 61 na 2ª edição) enfatiza esse ponto adicional:
No criticismo, não é suficiente achar falhas em uma dada visão. Deve-se sempre perguntar, “Qual é a alternativa’ e “A alternativa tem menos dificuldades?” John Baillie fala de ter escrito um trabalho em que ele criticou severamente uma visão específica. Seu professor comentou: “Toda teoria tem suas dificuldades, mas você não considerou se alguma outra teoria tem menos dificuldades que essa que você criticou”.

Bom criticismo é trabalho árduo, e é necessário trabalhar até que Cristo volte. Os três pontos acima não nos impedirão de cometer todos os erros, mas irão nos ajudar a ser melhores críticos e, assim, melhores servos de Deus e da verdade.

Justin Taylor (Ph.D. – Southern Baptist Seminary) é vice-presidente senior e publicador de livros da editora Crossway e escreve no seu blog Between Two Worlds [Entre dois mundos], que está entre os blogs cristãos mais lidos nos EUA. Ele também escreveu livros em co-autoria com John Piper, como Firmes: um chamado para a perseverança dos santos (Editora Fiel).

Traduzido por Felipe Prestes
Fonte original:
http://www.thegospelcoalition.org/blogs/justintaylor/2015/08/21/3-things-to-remember-before-you-criticize-someones-theology/