A soberania de Deus

Sem autor

A soberania de Deus

Por z) Charles Spurgeon

O patrão diz: “Eu não tenho o direito de fazer o que eu quero com o que é meu?” É a mesma maneira como o Deus do céu e da terra faz esta pergunta para você hoje: “Não tenho o direito de fazer o que quero com o que é meu?” Não há nenhum atributo de Deus, que seja mais confortável para os seus filhos que a doutrina da Soberania Divina. Sob as circunstâncias mais adversas, em meio aos problemas mais graves, eles acreditam que a soberania ordenou as suas aflições, que a soberania que governa o tudo irá preservá-los.

Não há nada que os filhos de Deus devam afirmar com mais afinco do que o domínio de seu Senhor sobre toda a criação, o reino de Deus sobre todas as obras de Suas mãos. O trono de Deus e Seu direito de sentar-se naquele trono. Porém, não há doutrina mais odiada pelos homens do mundo, como a grande doutrina da Soberania do infinito Yahweh.

Os homens podem admitir Deus em qualquer lugar, mas não no seu trono. Eles permitem que Deus faça os mundos e as estrelas, que ele os abençoe com os seus tesouros. Ele pode até segurar a terra e seus pilares com firmeza, ligar as luzes do céu ou acalmar as ondas do oceano, mas quando Deus ascende ao Seu trono, Suas criaturas rangem os dentes, e quando proclamamos um Deus entronizado, e o direito que Ele tem de fazer o que quiser com o que é seu , de dispor de Suas criaturas como bem entender sem consultá-las previamente, então a reação é de zombaria e indignação. Porque Deus em seu trono, não é o Deus que eles amam. Eles o querem em outro lugar sem o seu cetro na mão nem com sua coroa sobre a cabeça.
Mas nós amamos pregar a Deus em seu trono. É Deus no Seu trono em quem nós confiamos. É a Deus no Seu trono a quem temos vindo louvar neste dia. E é sobre Deus no Seu trono que vou falar neste sermão. No entanto, vou pregar apenas sobre uma parte da soberania de Deus, que é o governo soberano de Deus na distribuição dos seus dons. Creio que Ele tem o direito de fazer o que quiser com o que é seu, e que ele exerce esse direito.

Temos de admitir, que todas as bênçãos são dádivas e não temos direito a elas por mérito próprio. Eu acho que nenhuma mente razoável pode contestar isso. Admitido isso, faremos o possível para mostrar que ele tem o direito, visto que estes dons lhe pertencem, de fazer o que quiser com eles, pode retê-los ou distribuí-los a quem ele quiser , como melhor lhe parecer. “Não tenho o direito de fazer o que quero com o que é meu?”

Vamos dividir os dons de Deus em cinco classes. Em primeiro lugar, temos os dons temporários, em segundo, os dons salvadores (transcreveremos somente esses dois) , em terceiro, os dons de honra, em quarto lugar, os dons úteis e, em quinto lugar, os dons de consolação. De todos eles, ele pode dizer: “Não tenho o direito de fazer o que quero com o que é meu?”

I. Então, primeiro, os DONS temporários. É um fato incontestável que Deus não deu as mesmas coisas para todas as pessoas nos assuntos temporais, que Ele não tem distribuído a todas as Suas criaturas a mesma quantidade de felicidade ou a mesma posição na criação. Existem diferenças. Saul era alto e de corpo esculpido enquanto Zaqueu era um homem pequeno. Muitos há cujos olhos nunca apreciaram o sol, cujos ouvidos nunca ouviram os encantos da música, e cujos lábios nunca emitiram sons inteligíveis e harmoniosos.

Ande pela terra e você vai encontrar homens superiores em vigor, saúde e figura, e encontrar outras pessoas que são inferiores nessas mesmas coisas. Alguns estão bem acima de seus pares em sua aparência. Por que Deus deu beleza a uns e a outros não? Alguns possuem todos os sentidos enquanto outros apenas alguns?

Não há outra resposta exceto esta: “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.” Os fariseus perguntaram: “Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Sabemos que não foi por causa do pecado de seus pais que ele nasceu cego, ou que os outros sofreram infortúnios semelhantes, mas Deus fez o que queria na distribuição dos seus benefícios terrenos, e assim falou ao mundo: “Eu não tenho o direito de fazer o que quero com o que é meu?”

Note, também, que há diferença na distribuição de dons intelectuais. Nem todos os homens são como Sócrates, há poucos como Platão, eventualmente, aqui e ali, encontramos um Bacon, muito ocasionalmente vai existir um Isaac Newton. Alguns com grandes mentes com as quais eles podem descobrir segredos: sondar as profundidades dos oceanos, medir a altura das montanhas, dividir os raios do sol e as estrelas. Outros têm apenas mentes limitadas. Você pode tentar educá-los e educá-los, mas nunca chegarão a ser intelectualmente brilhantes. Você não pode melhorar o que não está lá.
Quanto aos dons temporários Deus não criou iguais, mas tem diversificado os seus dons. Um homem pode ser tão eloqüente quanto Whitfield, e um outro apenas gaguejar.

A um homem Deus dá vida longa e boa saúde, de modo que ele mal sabe o que é uma doença. Enquanto outro homem encontra uma enfermidade em quase cada dia da sua vida. Moisés, mesmo em sua velhice, era forte como um jovem. Mais uma vez perguntamos: Qual é a causa dessa diferença? E a única resposta apropriada é: A soberania do Senhor.

Você também vai descobrir que alguns homens são arrebatados no auge de suas vidas, na primavera de seus dias, enquanto outros alcançam setenta anos ou mais. Uns partem antes da conclusão da primeira fase da suas existências, enquanto outros têm seus dias esticados até ao ponto de sua velhice se tornar um fardo. Estou convencido de que devemos atribuir a causa de todas essas diferenças na vida, a soberania de Deus . Ele é soberano e Rei. Não pode ele fazer o que quiser com o que é dele?

Vamos deixar esse ponto, mas antes de fazê-lo devemos refletir um pouco sobre ele. Você que tem recebido o dom de uma nobre aparência ou de um belo corpo, não se orgulhe disso, pois seus dons vêm de Deus. Ó não se ensoberbeça, pois sua soberba poderá lhe fazer feio num instante. As flores não se orgulham de sua beleza, nem os pássaros cantam em homenagem à sua plumagem. Não se orgulhem por sua beleza nem se exaltem por sua formosura. Vocês que possuem poderosos intelectos, lembrem-se que tudo que vocês têm foi outorgado por um Senhor Soberano. Ele que criou pode também destruir. Não se orgulhe de seus conhecimentos sejam eles grandes ou pequenos, pois tudo lhe foi dado como dádiva. Use o que Deus lhe tem dado para o serviço dele, não faça mau uso dos dons que ele lhe deu.

Mas se o Senhor te deu apenas um talento e nada mais, não o escondas em um lenço, use-o para o bem e, então, pode acontecer de ele te dê mais alguns talentos.
Louva ao Senhor por teres mais que uns e menos que outros. Contempla sua bondade tanto no que tens como no que não tens. Ele te deu somente aquilo que teus ombros podem carregar.

II. Até este momento, a maioria estará de acordo com o que temos dito; mas quando chegamos ao segundo ponto, OS DONS SALVADORES, haverá muitos que já não estarão de acordo, já que não podem aceitar essa doutrina concernente a soberania de Deus e a salvação do homem, então vemos que os homens se levantam para defender seus pobres semelhantes a quem consideram como prejudicados pela predestinação de Deus. Porém não se sabe de alguém que tenha se levantado para defender o Diabo, e sem embargo, eu creio que se alguma criatura tem algum direito de queixar-se são os anjos caídos. Por seu pecado foram lançados fora do céu imediatamente e, a eles, nunca foi enviada uma mensagem de misericórdia. Uma vez expulsos sua condenação foi definitiva; enquanto que aos homens, foi dado uma trégua e uma mensagem de redenção foi enviada ao seu mundo, e um grande número deles foi eleito para a vida eterna.

Por que não contender com a soberania em ambos os casos?

Negamos a Deus o direito de eleger um povo escolhido entre a raça humana. Mas eu pergunto: Por que não se discute igualmente o direito de Deus de decidir não salvar nenhum anjo caído? Se a eleição é uma questão de direitos, certamente os anjos teriam tanto direito quanto os homens. Acaso não foram colocados numa dignidade superior? Por acaso pecaram mais? Cremos que não. O pecado de Adão foi tão deliberado e completo que não podemos imaginar um pecado maior. Se os anjos expulsos do Céu tivessem sido restaurados, não prestariam um serviço maior ao criador do que nós poderíamos jamais prestar? Se nos fosse permitido julgar esse assunto, salvaríamos os anjos e não salvaríamos os homens? Admirem pois o amor e a soberania de Deus, que enquanto negou redenção aos anjos caídos, levantou um número de eleitos da raça humana para pô-los entre príncipes, por meio dos méritos de Jesus Cristo Senhor nosso.

Observem a soberania divina elegendo Israel e deixando os gentios em escuridão durante anos. Por que Israel foi instruído e salvo enquanto que a Síria foi deixada a perecer na idolatria? Acaso era aquela raça mais pura em sua origem e melhor em seu caráter que essa outra? Acaso os israelitas não adoraram muitas vezes falsos deuses e provocara a ira e o aborrecimento do Deus verdadeiro? Por que foram favorecidos acima de seus semelhantes? Por que o sol brilhou sobre eles enquanto que todas as nações ao seu redor foram deixadas na escuridão e milhões foram empurrados para o inferno? Por que? A única resposta que pode ser dada é esta: Deus em sua soberania tem misericórdia de quem quer e endurece a quem quer.

Podemos falar corretamente de bênçãos universais, já que vemos os dons naturais de Deus espalhados mais ou menos por toda parte, e os homens podem recebê-los ou desprezá-los. Mas não sucede assim com a graça salvadora. Os homens não podem tomar a graça de Deus e transportarem-se a si mesmos das trevas para a luz. A luz não vem e diz às trevas: Usa-me! A luz vem e afugenta as trevas. A vida não vem ao homem que está morto dizendo-lhe: Usa-me e serás restaurado à vida! Ela vem com poder e ordena a restauração da vida. O Espírito não vem aos ossos secos e diz: Usem este poder e revistam-se de carne, porém ele vem e os reveste de carne e a obra está feita. A graça salvadora é algo que vem e exerce sua influência sobre nós.

“Unicamente a vontade soberana de Deus
Nos converte em herdeiros da graça,
Nascidos a imagem de seu Filho,
Uma raça criada de novo”.

Digo a todos vocês que rilham os dentes ao ouvir essa doutrina, quer saiba ou não, vocês têm uma boa dose de inimizade contra Deus em seus corações… pois estão em oposição a idéia de um Deus absoluto, um Deus sem limites, um Deus sem algemas, um Deus imutável, e um Deus com vontade livre (que vocês se agradam tanto em demonstrar que as criaturas possuem).
Estou persuadido que a soberania de Deus deve ser sustentada por todos nós se queremos gozar de um saudável estado mental.
“A salvação pertence a Yahweh”, então demos a ele toda a glória a seu santo nome, a quem pertence toda a glória!